É possível um time de futebol formar o carater de uma criança?
Há 16 anos eu vivi um dos momentos mais especiais da minha vida. Na noite do dia 26/07/1995 mais uma batalha era esperada. A rivalidade entre Grêmio e Palmeiras era enorme.
O Palmeiras era o time da mídia, cheio de jogadores milionários da seleção bancados pela Parmalat. Era o melhor time do mundo, segundo a imprensa. O Grêmio? Ninguém conhecia. Era um amontoado de jogadores rejeitados em outros clubes, muitos estavam desempregados e um treinador gaúcho desconhecido de bigode. Me lembro como se fosse hoje de abrir o jornal e ler a manchete em letras garrafais "PALMEIRAS ENFRENTA OS AÇOUGUEIROS DO SUL". Para o resto do país o Grêmio era isso. Era como se o Grêmio fosse eu. Eu era o Grêmio. Onze animais em campo, violentos e grosseiros. Lembro também do treinador da seleção falando que "não convoco jogadores do Grêmio. Eles não são jogadores de futebol". Sim. O Grêmio não era um grande time, mas foi com esses onze animais que aprendi que na vida não adianta ser talentoso ou genial. Tem que se trabalhar. Desde pequeno eu via aqueles onze homens se matando em campo, sangrando, batendo, apanhando, chorando, correndo até cair estafado no chão e pensava que aquele time era a síntese da vida. Não importava ganhar ou perder, importava lutar e não abaixar a cabeça.
Se eu torcesse pro Palmeiras, Flamengo, Santos ou qualquer outro time eu seria uma pessoa diferente. Poderia ser uma pessoa melhor ou pior.
Esse time me fez ver desde cedo que malandragem não é o caminho. Dinheiro não é tudo. Não é com dribles que se ganha a vida. É com sangue.
E aí no dia 26/07/1995 esses onze homens entraram contra o Brasil em campo. Do outro lado o Palmeiras e suas estrelas. O resultado final foi um massacre de 5 x 0 para os "açougueiros". Me lembro como se fosse ontem do Arilson chutando de longe, Arce cruzando, Paulo Nunes correndo, as cabeçadas do Jardel e claro, a voadora do Dinho e Valber que o Danrlei entrou no meio para ajudar o companheiro. Lembro também da tristeza parcial do Galvão Bueno ao "narrar" os gols do Grêmio. O time do Brasil em campo era o Palmeiras. Aquele time não via limites, mesmo sendo limitado.
Eu olhava pra televisão e não acreditava. Beijava a minha camiseta do Grêmio sem acreditar. Pensava na felicidade do meu avô. O Brasil não acreditava. Só aqueles onze homens acreditavam.
Sim, é possível um time formar o carater de alguém. Aquele dia foi um dos dias em que o Grêmio ajudou a formar o meu carater. Muito do que sou hoje eu tenho que agradecer ao Danrlei, Arce, Rivarola, Adilson, Roger, Luis Carlos Goiano, Dinho, Carlos Miguel, Arilson, Paulo Nunes e Jardel.
O Grêmio foi campeão da Libertadores nesse ano. Mas isso não foi o mais importante. O mais importante foi a lição e o exemplo que eles passaram ao Brasil e à uma criança apaixonada pelo clube.
Agradeço muito por ter crescido com aquele time de 1995 como exemplo. Devo muito a eles.