terça-feira, 29 de novembro de 2011

A vingança por uma camisa. Dez anos depois.

Essa história - real, aliás - ilustra bem o que é o espírito do Grêmio, do gremista e como aquele time de 1995 representava exatamente o que pensamos sobre a vida e, mais importante, o futebol. Ela mostra porque temos trapos com o rosto do Dinho e não de algum jogador habilidoso. na saída de campo, aquela noite, Dinho falou ''Eu vou pegar esse cara''. E cumpriu. Dez anos depois.

A história do Dinho com o Valber, 10 anos depois foi assim:

Essa é a história de um homem mau
Depois de uma década, os velhos inimigos se reencontraram. E não foi em paz.

Dinho e Valber. Em 1995, os dois brigaram a socos durante um épico Grêmio versus Palmeiras. Foram expulsos, ambos. Fora de campo, na pista atlética do Olímpico, se engalfinharam outra vez. Acabaram a noite na delegacia. Tudo parecia esquecido. Não estava. Pelo menos para Dinho.

Agora em junho, depois que o Brasil jogou contra o Paraguai, Dinho resolveu ir ao Dado Bier com a esposa e alguns amigos. Chegando lá, surpresa: Valber estava entrando. Cumprimentaram-se, civilizadamente. Cada um foi para o seu lado. Só que, de longe, Dinho ficou observando o antigo desafeto. Via-o dançar, via-o rir e, por algum motivo, aquilo começou a irritá-lo. A noite não terminou bem. Nem poderia, havendo algo a irritar o cangaceiro Dinho. Fiquei sabendo do ocorrido e liguei para Dinho, a fim de reunir mais detalhes. Com a sinceridade dos homens sem medo, Dinho reconstituiu o reencontro, que, para ele, foi como uma comemoração pelo décimo aniversário do bicampeonato da América do Grêmio.

- Eu olhava pra ele e aquilo que tinha acontecido no jogo foi me voltando à cabeça - contou. - Foi voltando, foi voltando e foi me dando uma raiva, uma raiva. Até que eu não agüentava mais olhar pra ele.

Então, o cangaceiro decidiu: ia quebrar a cara de Valber. Esperou que o outro fosse ao banheiro. Saiu atrás.

- Quando ele estava lá embaixo o alcancei - relatou Dinho, com alguma satisfação acentuando as vogais. - Peguei ele pelo braço, tirei o copo de cerveja que estava na mão dele e pus de lado. Aí ele começou a falar: "Pô, Dinho, aquilo foi há 10 anos". E eu disse: "É, mas eu não esqueci". Então chegaram os seguranças e cercaram o Valber. Eu queria acertar pelo menos um. Não deixaram. Nessa hora, quando ele estava atrás dos seguranças, ele começou a dizer: "Tu só faz isso porque está na tua cidade, no teu território". Nossa, aí mesmo é que eu queria pegar o cara, porque antes, quando estávamos só nós dois, ele não disse nada daquilo, estava bem mansinho. Atrás dos seguranças é que ficou grandão.

Foram os seguranças, que se identificaram como gremistas de fé, que demoveram Dinho da sua intenção de "quebrar o Valber todinho".

Ressentimento tão antigo é raro, no mundo frio do futebol profissional. Dinho, no entanto, sempre foi um passional. Certas pendências ele tem necessidade de resolver com os métodos dos seus antepassados do sertão sergipano. As saracotices de alguns atacantes da atualidade, por exemplo, ele não admitiria:

- Não gosto nem de ver esse Robinho, que pedala e não sai do lugar. Pra que isso? Se for em direção ao gol, tudo bem, mas isso de pedalar por pedalar... Se fosse comigo, se ele pedalasse na minha frente, eu dava uma machadada no pescoço dele. Ele não ia se meter comigo, pode acreditar. Pergunta pro Denílson, pro Sávio e pro Edmundo, que são habilidosos e que jogavam no meu tempo. Vê se eles faziam esse tipo de coisa na minha frente.

Pudera: Dinho chegava a afiar as travas da chuteira antes de entrar em campo.

- Eu esmerilhava as travas. Elas ficavam um pouco pontiagudas - riu. - Mas não era pra tirar pedaço da canela de ninguém. Até porque existe caneleira pra isso. O atacante tem que usar caneleira, pô.

Ah, é importante ressaltar que Dinho não era insensível às queixas dos atacantes. Desde que fossem do time dele, claro:

- Às vezes o Paulo Nunes reclamava: "Puxa, eu estou apanhando lá na frente. Vocês não vão fazer nada aqui atrás???" Aí nós tínhamos que tomar uma atitude.

Tomavam. Dinho recordou com um suspiro de saudade o velho entendimento com seu colega de vigilância da área, Luis Carlos Goiano:

- Nós combinávamos: quando o atacante ia pra cima do Goiano, ele dava o bote e eu ficava na sobra. O atacante não passava de jeito nenhum por nós dois. Mas às vezes eu dava o bote e ele pegava o cara na sobra. Era legal.

A diferença entre eles, segundo Dinho, é que Goiano batia e pedia desculpas.

- Eu não, eu batia e dava as costas, ia embora. O Goiano é um cara educado, atleta de Cristo. Ele sempre pedia desculpas.

Mas hoje está tudo mudado. Dinho vê esse futebol bailarino e rilha os dentes. Acha que um volante como ele ainda faria sucesso no Brasil. Ainda seria um vencedor. Por isso, fez curso de treinador, pensa em ensinar sua arte para os meninos que estão surgindo nas escolinhas. Quem sabe não é contratado pelo Grêmio? Poderia trabalhar como auxiliar, mostrar como é que se faz.

- Seria bonito - sonha Dinho. - Ia ser bom ajudar o Grêmio, porque o Grêmio sempre vai ser a minha casa, e a gente tem que cuidar da casa da gente.

Aqui o vídeo da briga épica naqueles 5x0


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Referência é tudo: Oasis e a "homenagem" ao The Kinks

Pouca gente reconhece, mas The Kinks foi uma das maiores bandas de toda a existência desse troço chamado Planeta Terra. Influênciou toda a geração do Swing London, dos anos 60.

E o Oasis foi A banda do BritPop, movimento britânico dos anos 90 que devolveu o reinado do rock ao povo da Rainha. Nada mais justo que uma homenagem, né? Acontece que o Oasis, em 2007, plagiou sem os créditos um clipe do The Kinks, de 1966.

Vê aí se não é igualzinho.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

O primeiro dia em que chorei.

Certas coisas marcam na vida de uma criança. O brinquedo preferido, a namoradinha do colégio, as brincadeiras na rua. Eu, como um louco que sempre fui, me lembro do primeiro dia em que chorei. Chorei como se as lágrimas fossem me matar, o que eu não acharia ruim, afinal de contas a minha vida não fazia mais sentido naquele dia 28/11 de 1995.

Antes dessa data fatídica muita coisa ruim já havia acontecido na minha vida. O ano de 1995 foi o da separação dos meus pais depois de muitas brigas e cenas horríveis. Antes disso já havia me mudado de cidade, deixado os meus avós, tios e amigos para trás. Para uma criança era muita coisa. Mas eu nunca me deixei abalar. Estava sempre lá, como se tudo fosse milagrosamente melhorar um dia e todo o sofrimento fosse pequeno perto de uma vida inteira que eu tinha pela frente.

Mas naquela manhã o sofrimento foi maior do que toda a esperança em uma vida que eu poderia ter. Naquele momento não valeria a pena passar por tudo. Não valeria a pena insistir se tudo o que eu mais acreditava havia se ruído.

Lembro dos meses e esperando o dia chegar. Contava cada dia, cada minuto, cada segundo para aquela manhã do dia 25/11 chegar. Para uma criança ansiosa cada dia demora muito tempo. Lembro de imaginar esse jogo por meses e meses, de sonhar quase todos os dias com ele, de conversar com o meu avô o tempo inteiro sobre esse jogo, de ouvir ele me contando de como tinha sido o jogo de 1983, em que o Grêmio havia conquistado o mundo. Eu queria passar pelo mesmo. Eu queria passar por esse experiência única na vida, eu queria passar isso tudo com o meu avô e para contar para os meus netos também. Hoje o meu avô já está no céu azul e eu nunca pude dar nele aquele abraço feliz de campeão que passei meses esperando.

No dia anterior pedi para a minha mãe me acordar cedo, o jogo começou 8h da manhã se eu não me engano e lá estava eu, na cama, na manhã de uma quinta feira faltando a aula - qual mãe seria capaz de não deixar o filho faltar aula para ver o momento mais importante da vida dele?. De manhã, eu que mal havia conseguido dormir, agarrado com a minha camisa tricolor, torcendo pelo momento mais fundamental da minha vida, torcendo por aqueles homens que formaram o meu caráter e, não desconfiava ainda, prester a viver um dos momentos mais traumáticos que terei até o dia da minha morte.

O Ajax não era um time comum. Era uma máquina! A base da seleção holandesa, com alguns dos melhores jogadores do mundo como os Irmãos De Boer, Van der Sar, Finidi, Kluivert, Overmars, Davids, Seedorf e Litmanem. Lembro que durante meses só de pensar em um desses nomes me subia um frio na espinha. Eles eram os maiores vilões da minha vida. Não me importava nenhum vilão de cinema. Eu tinha os meus, eles eram reais e eu sabia que um dia teria que bater de frente com eles. Esse dia chegou e o Grêmio, aqueles onze homens que sangravam e corriam até desmaiar em campo (nada mais que isso), batiam de frente com os meus vilões, com os meus medos.

Rivarola foi expulso no começo do jogo e passamos quase 70 minutos jogando com 10 homens contra 11 daquela seleção do mundo. Aí já era demais, era covardia, eu só pedia piedade, aguardava pelo momento em que o Grêmio tomaria 3 ou 5 gols de uma vez só. Nenhum time no mundo aguentaria aquilo. Nenhuma criança aguentaria.

Mas o Grêmio segurou. Foi valente. Não tomou nenhum gol no jogo, não tomou nenhum gol na prorrogação e foi para os pênaltis. Os pênaltis! Onde não contava mais ter 10 ou 11 homens, os pênaltis onde os meus heróis poderiam resolver. Eu contava com o Danrlei para defender, ele era o maior goleiro do mundo e o Dinho e o Arce fariam os pênaltis, obviamente. Corria a lenda de que o Arce nunca havia perdido um pênalti na vida. E o Dinho era - e é - o meu herói. Ele nunca iria me decepcionar.

O Dinho errou o primeiro pênalti. Arce errou - pela primeira vez na vida - o segundo e o Danrlei não pegou nenhum. Quando eles erraram eu simplesmente não me mexi, fui me encolhendo (e eu estava sozinho no quarto, por superstição), me encolhendo tanto que caberia dentro de um potinho, escondia o meu rosto na camisa do Grêmio para não ver o meu time tomando um gol atrás do outro nos pênaltis. Mas não chorei. Se aqueles 10 homens foram capazes de segurar aquela seleção de 11 durante 120 minutos, eles iriam - por poderes mágicos - fazer tudo dar certo. Claro que eles iriam.

Mas naquele momento eu ví que a vida não seria tão boa quanto eu acreditava. Meus pais se separaram, eu deixei uma vida em uma outra cidade e sempre achei que tudo daria certo. Aquele dia 25/11 foi crucial para a minha vida e a minha formação. A vida é impiedosa. Não adianta correr dos seus medos e vilões. A tristeza é muito mais forte que a alegria. Meus super-heróis não tem super poderes. O céu não é azul. Tudo é cinza. A vida é cinza. Eu ainda teria que aguentar mais, pelo menos, 60 anos dessa vida injusta e difícil que aqueles holandeses me apresentaram. E eles vestiam vermelho. Eles vestiam logo VERMELHO, a cor que eu aprendi a ter nojo desde que nasci! A realidade foi jogada na minha cara, esfregada no meu peito e eu tinha só 8 anos.

Eu chorei. É a primeira lembrança que eu tenho minha mesma chorando. Chorei muito, por muitas horas. Lembro como se fosse ontem eu sentado na porta chorando, gritando de chorar, com o meu peito todo molhado de lágrimas e sem conseguir falar por muito tempo. Eu só queria ficar sentado no chão, sozinho, chorando. O mundo era uma imensa escuridão naquela hora. Passei dias sem comer direito, uma semana sem conseguir ir pro colégio. Era a única chance que eu teria na minha vida de ver o meu time campeão do mundo. Até hoje isso nunca mais aconteceu e acredito que nunca mais vá acontecer. Foi um golpe duro demais.

Até hoje - 17 anos depois - eu penso no que poderia ser diferente. Se eu tivesse passado a noite em claro, se eu tivesse vestido a camiseta, se eu tivesse de chinelos em vez de meias, se eu fosse uma criança melhor, se eu tivesse obedecido os meus pais, se eu, como que por um passe de mágicas, pudesse mudar alguma coisa e voltar 17 anos atrás para mudar alguma coisa eu mudaria. Até hoje eu tenho certeza de que poderia mudar alguma coisa e ver o meu time campeão do mundo. Eu poderia comemorar com o meu avô, contaria uma história linda para os meus filhos e netos daquele dia como ele me contava de 1983, eu seria uma criança feliz, iria acreditar em um mundo melhor, iria aproveitar toda a minha juventude. No entanto eu chorei. Chorei muito.

Naquele dia não foi só o meu time que perdeu. Fui eu que perdi o jogo. Perdi a inocência, perdi a ilusão, perdi o amor pela vida, perdi as cores que eu via no mundo, perdi a crença na humanidade.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Há 16 anos o Grêmio formava meu caráter.

É possível um time de futebol formar o carater de uma criança?

Há 16 anos eu vivi um dos momentos mais especiais da minha vida. Na noite do dia 26/07/1995 mais uma batalha era esperada. A rivalidade entre Grêmio e Palmeiras era enorme.

O Palmeiras era o time da mídia, cheio de jogadores milionários da seleção bancados pela Parmalat. Era o melhor time do mundo, segundo a imprensa. O Grêmio? Ninguém conhecia. Era um amontoado de jogadores rejeitados em outros clubes, muitos estavam desempregados e um treinador gaúcho desconhecido de bigode. Me lembro como se fosse hoje de abrir o jornal e ler a manchete em letras garrafais "PALMEIRAS ENFRENTA OS AÇOUGUEIROS DO SUL". Para o resto do país o Grêmio era isso. Era como se o Grêmio fosse eu. Eu era o Grêmio. Onze animais em campo, violentos e grosseiros. Lembro também do treinador da seleção falando que "não convoco jogadores do Grêmio. Eles não são jogadores de futebol". Sim. O Grêmio não era um grande time, mas foi com esses onze animais que aprendi que na vida não adianta ser talentoso ou genial. Tem que se trabalhar. Desde pequeno eu via aqueles onze homens se matando em campo, sangrando, batendo, apanhando, chorando, correndo até cair estafado no chão e pensava que aquele time era a síntese da vida. Não importava ganhar ou perder, importava lutar e não abaixar a cabeça.

Se eu torcesse pro Palmeiras, Flamengo, Santos ou qualquer outro time eu seria uma pessoa diferente. Poderia ser uma pessoa melhor ou pior.

Esse time me fez ver desde cedo que malandragem não é o caminho. Dinheiro não é tudo. Não é com dribles que se ganha a vida. É com sangue.

E aí no dia 26/07/1995 esses onze homens entraram contra o Brasil em campo. Do outro lado o Palmeiras e suas estrelas. O resultado final foi um massacre de 5 x 0 para os "açougueiros". Me lembro como se fosse ontem do Arilson chutando de longe, Arce cruzando, Paulo Nunes correndo, as cabeçadas do Jardel e claro, a voadora do Dinho e Valber que o Danrlei entrou no meio para ajudar o companheiro. Lembro também da tristeza parcial do Galvão Bueno ao "narrar" os gols do Grêmio. O time do Brasil em campo era o Palmeiras. Aquele time não via limites, mesmo sendo limitado.

Eu olhava pra televisão e não acreditava. Beijava a minha camiseta do Grêmio sem acreditar. Pensava na felicidade do meu avô. O Brasil não acreditava. Só aqueles onze homens acreditavam.

Sim, é possível um time formar o carater de alguém. Aquele dia foi um dos dias em que o Grêmio ajudou a formar o meu carater. Muito do que sou hoje eu tenho que agradecer ao Danrlei, Arce, Rivarola, Adilson, Roger, Luis Carlos Goiano, Dinho, Carlos Miguel, Arilson, Paulo Nunes e Jardel.

O Grêmio foi campeão da Libertadores nesse ano. Mas isso não foi o mais importante. O mais importante foi a lição e o exemplo que eles passaram ao Brasil e à uma criança apaixonada pelo clube.

Agradeço muito por ter crescido com aquele time de 1995 como exemplo. Devo muito a eles.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O homem, a privacidade e seus emails

Eu sempre achei que quem deve não teme. O homem não sabe mentir direito, não tem esse dom que Deus colocou nas mulheres. Eu mesmo, quando penso em mentir para a minha namorada coloco os prós e contras na mesa. Eu consigo mentir, lógico. Mas só uma vez. Sei que se ela me perguntar de novo vou repetir a mentira errado, me enrolar todo, ficar nervoso, gaguejar, modificar toda a história e me entregar. Mesmo se ela não perguntar de novo, iria ficar esperando a tal pergunta de uma maneira torturante e iria contar, por não conseguir sustentar a mentira mesmo quando ela passou despercebida. Pensando nisso eu resolvo não mentir. Nem tanto porque sou um cara bonzinho e honesto, mas porque dá trabalho demais e eu não preciso passar por isso, se posso sempre falar a verdade.

Talvez por isso eu precure não fazer nada suspeito. Acho que a transparência é lindo em um casal. É a forma de dizer "não tenho segredos, estou pelado pra você". Por isso ela sabe todas as minhas senhas, deixo tudo meu logado no computador e no iphone, não falo com ninguém em um lugar "secreto" que ninguém possa ver, não apago nada do que fiz. Não coloco códigos entre eu e ela, entre a verdade e o mal entendido. Não é achar que sempre terá alguma coisa de suspeito pra eu ver. Não se trata de suspeita, mas de confiança.

Podem achar isso neurose ou algo parecido. Pra mim é normal. Se eu sou capaz de dormir todos os dias com uma pessoa e dividir a minha vida com ela, porque teria algo para esconder? Se eu divido a conta de luz, TV a cabo e aluguel com ela, porque não dividiria meu Facebook? Pra mim não faz sentido. Isso não é a tal da "privacidade". Privacidade eu tenho que ter do meu vizinho, do meu porteiro, do cara estranho que trabalha comigo. Da minha mulher eu não tenho que ter privacidade nenhuma. Mijo de porta aberta e escancaro meu email pra ela.

Essa crônica do Fabrício Carpinejar diz muito sobre isso:

"Conservo algumas pistas sobre a acidentada existência masculina. Pistas!, pois não tenho caminho, só o morto tem.

Antecipo uma delas. Na ausência de culpa, o homem reage mansamente quando sua mulher mexe no seu e-mail, no seu celular ou revista sua carteira. Não fará drama, não subirá no palanque para prometer pena de morte. Ficará ofendido, claro, mas não acabará com o relacionamento, muito menos despejará frases cortantes como “não dá mais”. Acompanhará o que ela tem a dizer e tratará de explicar ponto a ponto, redimindo enganos e distorções.

Marido inocente tem paciência. É incrível, sente-se feliz pela rara chance de exibir a ficha limpa e protagonizar merchandising da aliança. Desenvolverá uma generosidade imprevisível, vai dar colo ao choro e pedir que ela esqueça o desentendimento.

Ele é uma fera apenas quando sabe que tem alguma coisa de errado. Ao aprontar e fazer jogo duplo. Ao manter mensagens duvidosas e insinuações comprometedoras das outras. Não está magoado porque ela fuçou seus pertences (já perdoou a mãe por procurar toco de maconha em suas roupas), mas porque é bem provável que ela encontrou uma prova.

O pânico é a manifestação do crime. Tentará reverter sua posição defensiva em alucinado ataque, encenará a sina de vítima, com a ladainha de que viver assim é doentio ou de que amor nada é longe da confiança.

Quem não deve não teme e paga antecipado.
"

Despacho da Esquina, Fabrício Carpinejar.
http://carpinejar.blogspot.com/2010/10/despacho-da-esquina.html

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O dia em que o Felipe Melo mudou a minha vida.




Dia 25 de junho de 2010, Brasil x Portugal pela terceira rodada da 1º fase da Copa do Mundo da África do Sul.

Mas a minha história começa um pouco antes, exatamente no dia 11 de maio de 2010. Nesse dia o Dunga convocou a seleção para a Copa e o Brasil inteiro reclamou de Josúes, Júlios Baptistas, Grafites, Klébersons e... Felipes Melo. Mal sabia eu que um erro do treinador do Brasil iria alterar a minha vida quatro meses depois. Sim, porque se a seleção fosse melhor talvez eu não estaria aqui hoje.

Enquanto tudo se encaminhava para a África do Sul, entre maio e junho eu vivia uma espécie de hiato na minha (na verdade até outubro). Eu não estava mais com quem havia estado por muito tempo, eu não estava com ninguém novo que valesse a pena, na verdade eu não podia nem dizer que estava aproveitando por estar solteiro. Chega uma hora em que "aproveitar" não significa mais muita coisa na tua vida e tudo o que seria ótimo - porque convenhamos, ser solteiro em São Paulo é ótimo - perde um pouco o sentido.

Nesses meses eu foquei no trabalho, consegui passar de um peão que lutava para ter voz para um jovem coordenador que ainda não sabia muita coisa, mas que estava totalmente focado nisso. Chegava na agência 09h e voltava pra casa depois das 22h. Minha vida era basicamente essa. Tanto foco que no dia 11 de junho estava eu no Social Media Week, em plena Copa do Mundo e aí tudo parou para Brasil x Portugal.

O jogo passava no telão do teatro Frei Caneca, perto da minha casa, e quem assistiu um jogo do Brasil na Copa sabe que qualquer coisa era mais emocionante que ver o Felipe Melo fazendo besteira o tempo todo. Decidi ir dormir em casa. Entrei no Twitter - e naquela época entrar no Twitter era um ato, sem iPhone - e ví um RT engraçadinho de uma amiga minha. Aquela foto subiu no meu twitter como outras dezenas subiram, mas por algum motivo eu só fui ver o perfil dela. Eu tenho quase certeza que foi pelo ângulo da foto, pelo ôculos engraçado, por eu não conseguir definir o quanto aquela guria era linda, estranho e diferente ao mesmo. Uns 20 segundos depois descobri que além disso tudo ela era engraçada, crítica, mau humorada, frágil, triste, machucada, inteligente e linda, ela era linda e aquela foto estaria todo dia no meu Twitter. Eu queria que estivesse, talvez só pela foto. Ela me seguiu de volta, eu suspirei e a vida tomou o rumo de antes...

Talvez se o Felipe Melo não fosse convocado eu iria continuar a ver o jogo no telão, não iria pra casa, não entraria no Twitter, não iria ver nenhuma foto, não iria seguir ninguém, não iria suspirar e ter certeza de que aquela guria nunca iria olhar pra mim, mas que eu queria olhar pra ela.

Hoje eu vejo como uma série de pequenos detalhes que tinham tudo para não acontecer ou para dar errado foram importantes - e estranhos - nesse período de limbo na minha vida que foi da convocação da seleção, no dia 11 de maio, até o dia dia 18 de outubro. Tudo foi em uma linha muito fina em que nada do que aconteceu poderia ter acontecido. Mas aconteceu!

O Brasil perdeu, foi eliminado, eu dormi, me conformei em só olhar aquela guria, trabalhei, esqueci, trabalhei, trabalhei, trabalhei e trabalhei tanto que precisei de mais duas pessoas pra minha equipe.

A minha amiga que deu o RT no Twitter também me deu o currículo que foi a chave pra entrevista mais estranha e longa - embora tenha sido das mais curtas - da minha vida. A única entrevista em que eu não consegui olhar no olho, que eu não soube o que falar, o que fazer, a única entrevista em que eu soube que não comandava o rumo da conversa, talvez porque soubesse que a partir daquele momento eu não iria mais comandar nada sozinho na minha vida.

O erro do Felipe Melo mudou a minha vida. E hoje eu não poderia ser uma pessoa mais feliz pelo Brasil ter perdido a Copa, por aquele time ser horrível e, por isso, a minha vida ser linda hoje.

Uma porta que se fechou foi essencial para outra porta se abrir. E depois que eu abri essa porta, eu nunca mais vou fechar na minha vida.

Obrigado, Dunga. Obrigado, Danielle Cruz.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mãe

Esse não é um texto de dia das mães. É um texto do dia da mãe. Da minha mãe, Silvia Christina Pereira Marinho.

Infelizmente não posso dar um presente, a distância atrapalha tudo.

Durante a minha vida toda ela foi - e continua sendo - a imagem mais forte que eu tenho, a minha principal e talvez única referência de pessoa batalhadora, honesta, digna, inteligente, boa, forte e ótima mãe.

Lembro de quando eu era pequeno as noites que eu estraguei brigando com a minha irmã, os tapas que ela entrou na frente para que eu não apanhasse, a paciência pra me ensinar a amarrar o cadarço, a felicidade que era ir ao clube com ela no fim de semana, as pizzarias, as brincadeiras em que ela fingia que estava morta (que senso de humor...), e que depois de tudo, tendo brigado ou não, eu sempre só conseguia dormir com a mão no seu nariz.

Minha mãe, que um dia eu escrevi que a odiava em um papel e sei que ela guardou. Essas besteiras que a gente faz quando é adolescente. E mesmo assim ela estava lá para me apoiar em tudo o que eu fizesse, em todas as idiotices juvenis, nas decisões mais difíceis e nas mais estúpidas também.

Uma das minhas maiores felicidades da vida foi ir com ela no show do Paul McCartney e ver a minha mãe feliz como nunca havia visto.

Não passo um dia sem lembrar da voz, do cheiro, do olho, do abraço. Por mais que não saiba demonstrar, ela é a minha tábua de salvação, a única pessoa que eu tinha no mundo antes da Maria, a única que vai cuidar de mim independente do que acontecer, a única que vai me ouvir em qualquer momento da minha vida.

Graças a ela eu sou um homem hoje, responsável, que gosta de trabalhar, de estudar, honesto, que tenta fazer o bem, as coisas certas. Graças a ela eu suporto morar sozinho (ou não mais) nessa cidade horrível, graças ao sacrifício dela em renegar a própria vida para ajudar na dos seus filhos e ir para o Mato Grosso do Sul. Eu não sou nada ainda, mas graças ao exemplo da minha mãe eu quero crescer.

A minha mãe faz aniversário hoje e eu queria muito dar um abraço, um beijo e um presente. Mas mesmo com a distância de todos esses anos eu sei que ela nunca passou um dia sequer longe de mim.

Feliz aniversário, Mãe. Você é uma mulher especial, a médica mais apaixonada pelas crianças que eu já vi e a mãe mais incrível que existe.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A lei do deslocamento

Existe uma lei que fundamentei em minhas várias mudanças de cidades e nas muitas pessoas que eu deixava para trás com a certeza de que elas ficariam para trás por uma vontade minha.

A lei do deslocamento pessoal.

É simples. Duas pessoas ficam juntas e passam experiências ao mesmo tempo. Dividem uma vida e todos os seus momentos. Aí um dia elas se separam, por algum motivo. Mas continuam juntas. Na amizade, no namoro ou casamento.

A pessoa que fica no mesmo lugar que antes tende a sentir muito mais falta da outra que se foi. A explicação é simples: nós condicionamos nossas lembranças ao ambiente em que vivemos.

Exemplo: toda vez que uma porta abria de uma maneira, já sabia quem chegava. Sempre que olhava pra frente já sabia quem encontrar. Esperar pelo elevador e descer o elevador sozinhos era sempre ótimo. Hoje a porta continua ali, a cadeira, o corredor, o elevador. Mas a pessoa não.

O ambiente todo é só lembrança.

E a outra pessoa?

Vai sentir falta, claro. Mas muito menor. O ambiente é outro. Outras pessoas, outras portas, outro corredor, outro elevador. O deslumbramento do novo, o desconhecido, a falta de lembranças - nem por culpa dela, mas por falta de referência no ambiente mesmo -, e as novas histórias, novos assuntos, tudo novo.

Tudo novo.

Quem se desloca perde a referência e isso é normal. Quem fica lembrando é só quem fica estagnado, lembrando.

Essa lei do deslocamento faz sentido. E a saudade é muito maior para quem acredita nela.

Tudo novo. De novo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Marcelo Camelo - o chato

Marcelo Camelo é o novo Osvaldo Montenegro. Só que pior.

Por qual motivo a música dele é tão chata e insosa? Como alguém consegue criar coisas tão sonolentas e sem sal e, mesmo assim, manter um público fiel e que o trata como "gênio"?

Marcelo Camelo nunca foi e nunca será o "novo Chico".

Todo compositor tem um período de baixa, onde cria canções ruins depois de um período de criatividade intensa. O próprio Chico já lançou muita coisa ruim nos anos 80/90. Acontece que antes disso ele teve pelo menos duas décadas de ótimos lançamentos. A idade chega e você vai ficando mais chato mesmo. Os grandes compositores dos anos 60/70 hoje já não fazem nada que preste.

Mas e o Camelo?

Não fode, camelo!

Lançou dois DISCOS com grandes composições e a idade já chegou? Sim, porque o primeiro disco do Los Hermanos qualquer adolescente é capaz de fazer e o último, bom, o último já foi presságio do desastre que viria a seguir com a sua carreira solo. O seu primeiro álbum solo, "SOU", é uma montagem das canções mais sem sal já feitas nesse país chamado Brasil. Um disco em que um dos principais temas são as "velhinhas de Copacabana" não poderia mesmo dar em outra coisa.

Los Hermanos era bom. Mas a combinação da caretice do Camelo com a "loucura" do Amarante que fazia a fórmula dar certo. O Camelo sozinho é digno de pena e o Amarante com a sua loucura foi para os EUA lançar um disco até bom com a Little Joy, mas que teve o prazo de validade muito curto, pela falta de consistência musical mesmo. Acabou uma banda boa para começar duas carreiras pífias.

Ontem esse mesmo Marcelo Camelo nos brindou com mais uma prova de superação. A música nova "ô ô" (uma música com esse nome só poderia ser insuportável) é para pessoas com muita força de vontade e paciência. Paciência de se chegar ao final dela.


São 3 minutos de pura emoção:



Nada é mais nojento que o Chorão e Charlie Brown Jr. Mas talvez seja o caso deles se encontrarem de novo em algum aeroporto e....

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ela.

Aí eu abri uma porta. Com a camisa do Grêmio amassada, suado, descabelado de tanta trabalho, estressado com problemas no trabalho, com pressa de acabar tudo logo. E aí eu abri uma porta.

Ela.

Ela com uma camisa de manga comprida listrada em preto e branco, descabelada da chuva que pegou, um óculos um pouco grande pro rosto, tímida pela situação, abandonada, sozinha, frágil.

Na hora eu já sabia que ela seria minha. E ela seria minha mesmo se gostasse de outro, se namorasse, se fosse casada ou divorciada. Ela seria minha. Eu sabia. Por saber disso eu não soube o que falar. Se tem uma coisa que deixa um homem sem jeito é a certeza de que a partir daquele momento ele não vai ter total controle de uma situação. É saber que o próximo passo vai te levar pra um terreno que não é tão sólido.

Eu segui em frente e sei que não existe amor maior do mundo em 2 meses, mas existe amor em 2 meses. Vamos nos ajustando, apagando pequenas coisas, resolvendo antigas pendências, vamos nos conhecendo. Dois meses que são seis. Mas a certeza é que parece que a cada dia eu me apaixono de novo, cada dia eu me encanto por coisas novas. O olho, o nariz, as costas, a boca, o pescoço, o braço, a mão, não existe um só pedaço que eu não goste cada dia mais.


Lembro um dia que eu fiz de tudo pra vê-lá. Fiquei 2 minutos com ela e fui embora pra um lugar e ela foi pra outro. Eu senti inveja de quem podia estar perto dela. Pra mim, naquela noite, ela era a mulher mais linda de toda a cidade. Até hoje eu penso nisso todos os dias quando olho pra ela: é a mulher mais linda de toda a cidade.

A cada manhã eu abro aquela porta e passo por tudo aquilo de novo. Todo dia eu fico sem graça, todo dia eu fico feliz, todo dia eu fico encantado, todo dia eu gosto mais.

Aí eu fecho a porta e nós vamos pra casa. Juntos. Pra mesma casa. Pra "nossa" casa.

Hoje eu tenho o amor maior do mundo. E fico feliz em abrir aquela porta todo dia.

Por ela.

Ela.