terça-feira, 29 de novembro de 2011

A vingança por uma camisa. Dez anos depois.

Essa história - real, aliás - ilustra bem o que é o espírito do Grêmio, do gremista e como aquele time de 1995 representava exatamente o que pensamos sobre a vida e, mais importante, o futebol. Ela mostra porque temos trapos com o rosto do Dinho e não de algum jogador habilidoso. na saída de campo, aquela noite, Dinho falou ''Eu vou pegar esse cara''. E cumpriu. Dez anos depois.

A história do Dinho com o Valber, 10 anos depois foi assim:

Essa é a história de um homem mau
Depois de uma década, os velhos inimigos se reencontraram. E não foi em paz.

Dinho e Valber. Em 1995, os dois brigaram a socos durante um épico Grêmio versus Palmeiras. Foram expulsos, ambos. Fora de campo, na pista atlética do Olímpico, se engalfinharam outra vez. Acabaram a noite na delegacia. Tudo parecia esquecido. Não estava. Pelo menos para Dinho.

Agora em junho, depois que o Brasil jogou contra o Paraguai, Dinho resolveu ir ao Dado Bier com a esposa e alguns amigos. Chegando lá, surpresa: Valber estava entrando. Cumprimentaram-se, civilizadamente. Cada um foi para o seu lado. Só que, de longe, Dinho ficou observando o antigo desafeto. Via-o dançar, via-o rir e, por algum motivo, aquilo começou a irritá-lo. A noite não terminou bem. Nem poderia, havendo algo a irritar o cangaceiro Dinho. Fiquei sabendo do ocorrido e liguei para Dinho, a fim de reunir mais detalhes. Com a sinceridade dos homens sem medo, Dinho reconstituiu o reencontro, que, para ele, foi como uma comemoração pelo décimo aniversário do bicampeonato da América do Grêmio.

- Eu olhava pra ele e aquilo que tinha acontecido no jogo foi me voltando à cabeça - contou. - Foi voltando, foi voltando e foi me dando uma raiva, uma raiva. Até que eu não agüentava mais olhar pra ele.

Então, o cangaceiro decidiu: ia quebrar a cara de Valber. Esperou que o outro fosse ao banheiro. Saiu atrás.

- Quando ele estava lá embaixo o alcancei - relatou Dinho, com alguma satisfação acentuando as vogais. - Peguei ele pelo braço, tirei o copo de cerveja que estava na mão dele e pus de lado. Aí ele começou a falar: "Pô, Dinho, aquilo foi há 10 anos". E eu disse: "É, mas eu não esqueci". Então chegaram os seguranças e cercaram o Valber. Eu queria acertar pelo menos um. Não deixaram. Nessa hora, quando ele estava atrás dos seguranças, ele começou a dizer: "Tu só faz isso porque está na tua cidade, no teu território". Nossa, aí mesmo é que eu queria pegar o cara, porque antes, quando estávamos só nós dois, ele não disse nada daquilo, estava bem mansinho. Atrás dos seguranças é que ficou grandão.

Foram os seguranças, que se identificaram como gremistas de fé, que demoveram Dinho da sua intenção de "quebrar o Valber todinho".

Ressentimento tão antigo é raro, no mundo frio do futebol profissional. Dinho, no entanto, sempre foi um passional. Certas pendências ele tem necessidade de resolver com os métodos dos seus antepassados do sertão sergipano. As saracotices de alguns atacantes da atualidade, por exemplo, ele não admitiria:

- Não gosto nem de ver esse Robinho, que pedala e não sai do lugar. Pra que isso? Se for em direção ao gol, tudo bem, mas isso de pedalar por pedalar... Se fosse comigo, se ele pedalasse na minha frente, eu dava uma machadada no pescoço dele. Ele não ia se meter comigo, pode acreditar. Pergunta pro Denílson, pro Sávio e pro Edmundo, que são habilidosos e que jogavam no meu tempo. Vê se eles faziam esse tipo de coisa na minha frente.

Pudera: Dinho chegava a afiar as travas da chuteira antes de entrar em campo.

- Eu esmerilhava as travas. Elas ficavam um pouco pontiagudas - riu. - Mas não era pra tirar pedaço da canela de ninguém. Até porque existe caneleira pra isso. O atacante tem que usar caneleira, pô.

Ah, é importante ressaltar que Dinho não era insensível às queixas dos atacantes. Desde que fossem do time dele, claro:

- Às vezes o Paulo Nunes reclamava: "Puxa, eu estou apanhando lá na frente. Vocês não vão fazer nada aqui atrás???" Aí nós tínhamos que tomar uma atitude.

Tomavam. Dinho recordou com um suspiro de saudade o velho entendimento com seu colega de vigilância da área, Luis Carlos Goiano:

- Nós combinávamos: quando o atacante ia pra cima do Goiano, ele dava o bote e eu ficava na sobra. O atacante não passava de jeito nenhum por nós dois. Mas às vezes eu dava o bote e ele pegava o cara na sobra. Era legal.

A diferença entre eles, segundo Dinho, é que Goiano batia e pedia desculpas.

- Eu não, eu batia e dava as costas, ia embora. O Goiano é um cara educado, atleta de Cristo. Ele sempre pedia desculpas.

Mas hoje está tudo mudado. Dinho vê esse futebol bailarino e rilha os dentes. Acha que um volante como ele ainda faria sucesso no Brasil. Ainda seria um vencedor. Por isso, fez curso de treinador, pensa em ensinar sua arte para os meninos que estão surgindo nas escolinhas. Quem sabe não é contratado pelo Grêmio? Poderia trabalhar como auxiliar, mostrar como é que se faz.

- Seria bonito - sonha Dinho. - Ia ser bom ajudar o Grêmio, porque o Grêmio sempre vai ser a minha casa, e a gente tem que cuidar da casa da gente.

Aqui o vídeo da briga épica naqueles 5x0


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