segunda-feira, 21 de março de 2011

A lei do deslocamento

Existe uma lei que fundamentei em minhas várias mudanças de cidades e nas muitas pessoas que eu deixava para trás com a certeza de que elas ficariam para trás por uma vontade minha.

A lei do deslocamento pessoal.

É simples. Duas pessoas ficam juntas e passam experiências ao mesmo tempo. Dividem uma vida e todos os seus momentos. Aí um dia elas se separam, por algum motivo. Mas continuam juntas. Na amizade, no namoro ou casamento.

A pessoa que fica no mesmo lugar que antes tende a sentir muito mais falta da outra que se foi. A explicação é simples: nós condicionamos nossas lembranças ao ambiente em que vivemos.

Exemplo: toda vez que uma porta abria de uma maneira, já sabia quem chegava. Sempre que olhava pra frente já sabia quem encontrar. Esperar pelo elevador e descer o elevador sozinhos era sempre ótimo. Hoje a porta continua ali, a cadeira, o corredor, o elevador. Mas a pessoa não.

O ambiente todo é só lembrança.

E a outra pessoa?

Vai sentir falta, claro. Mas muito menor. O ambiente é outro. Outras pessoas, outras portas, outro corredor, outro elevador. O deslumbramento do novo, o desconhecido, a falta de lembranças - nem por culpa dela, mas por falta de referência no ambiente mesmo -, e as novas histórias, novos assuntos, tudo novo.

Tudo novo.

Quem se desloca perde a referência e isso é normal. Quem fica lembrando é só quem fica estagnado, lembrando.

Essa lei do deslocamento faz sentido. E a saudade é muito maior para quem acredita nela.

Tudo novo. De novo.

4 comentários:

felipe disse...

É realmente faz sentido o que disse, quem sofre mais é quem ficou estagnado, não alterou o cotidiano. Mas existem casos que as pessoas que alteraram o seu cotidiano sofrem talvez até mais, pq a mudança não era prevista, o pacato cotidiano a rotina sádia era o que a pessoa procurava e ao cortar isso brutalmente criaram cicatrizes que jamais irão curar, a marca sempre lá estará. Belo texto.

ChicoCabron disse...

O cotidiano, a rotina, a troca de experiências durante o dia. Nada disso vai voltar e as cicatrizes podem mesmo ficar.

Vamos ver.

Dani Cruz disse...

Quem se deslocou tambem tem saudade. Saudade do que nao vai viver. Das memorias que nao vai dividir. Da vida perfeita que ficou pra tras. E muito dificil tambem.

débys disse...

quem se desloca tambem sofre e tambem perde e nem sempre quem fica lembrando fica nessa, estagnado sua vida tb caminha para melhor ou não.
iggy