Tico. Escritor frustrado, meia idade, cinéfilo, solteiro convicto, mulherengo, pai de uma menina adolescente, publicitário. Boa aparência.
Lucas. Advogado, bem sucedido, apaixonado pela família, meia idade, politicamente correto, flamenguista fanático. Colecionador de figurinhas. Gordo.
Estudaram juntos na faculdade.
Cena 1 –
Interior – Bar do Bahia – Noturna – Bar praticamente vazio
Linha de ação –
Mesa de bar – boteco de rua – mesa com cerveja e dois copos pela metade - dois amigos de meia idade
Lucas esperando na mesa sozinho. Olhando aflito para o relógio. Bebendo uma cerveja.
Tico chega. Atrasado. Senta-se à mesa.
- Lucas
Rapaz, mas você não consegue ser pontual nunca. Incrível como os teus clientes suportam isso.
- Tico
Meus clientes não são presidiários como os seus. Eles sabem que tem todo o tempo do mundo para viver. Não são 10 minutos a mais ou a menos que vão mudar o seu destino.
- Lucas
Como se os publicitários também não fossem como os advogados de porta-de-cadeia. A diferença é que nós damos liberdade pras pessoas e vocês só prendem mais elas. Prendem na cadeia consumista e mentirosa que vocês mesmos criam. Vocês criam presidiários sociais. Nós os colocamos na rua para pessoas como você os destruírem.
- Tico
Cada um ganha para fazer o que sabe. O meu trabalho é uma enganação, mas o seu também. Ninguém é inocente quando se coloca dinheiro no meio. O meu objetivo é vender e o seu é vencer.
- Lucas
Pois é, meu amigo. Somos podres. Às vezes me pergunto quando foi o momento em que chegamos à esse ponto.
- Tico
O meu eu não sei. Mas o teu foi quando se casou, certamente.
- Lucas
Não concordo. Mas acho que o que une a sociedade e nos faz um pouco mais feliz é o álcool. Um brinde a cerveja, que nos faz esquecer de como realmente somos.
- Tico
Isso daria um ótimo comercial para TV. Um dia vou usar, pode apostar.
- Lucas
Vai ganhar dinheiro em cima de mim, da minha frustração. Nada mais publicitário que isso.
Um comentário:
Foda isso!
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